Tudo acerca da estimulação electromuscular (2ª parte)

Tudo acerca da estimulação electromuscular (2ª parte)Tipos de estimulação

Existem cinco tipos de estimulação electromuscular principais: a Estimulação Muscular Eletrônica, na (denominada geralmente por EMS), a Estimulação Muscular Russa, a Estimulação Neuroeléctrica Transcutânea, também conhecida pela sigla inglesa TENS, a Estimulação Interferencial e a Electro-Acupunctura. Estas caracterizam-se por apresentar diferentes objetivos e formas de estimulação na sua utilização, tanto a nível dos sinais enviados aos músculos como do próprio posicionamento e tipo de eléctrodos utilizados.
Em relação à Electro-Acupunctura, temos ainda o caso especial dos eléctrodos serem agulhas de acupunctura, sendo por consequência uma técnica de estimulação invasiva ao corpo do seu utilizador, contrariamente às restantes apresentadas.
A Estimulação Muscular Eletrônica caracteriza-se pela aplicação de estímulos de baixa tensão (a generalidade dos aparelhos necessita apenas de uma bateria de 9V), com correntes máximas entre os 80 e 100mA e de baixa frequência, tipicamente entre os 10 e os 100Hz, direcionados às fibras nervosas motoras dos músculos de forma a causar contrações musculares.
Esta contração/relaxação dos músculos induzida pelo sistema de EMS pode servir a vários objetivos terapêuticos como a prevenção ou retardamento de atrofia muscular, ajuda à reabilitação em situações de pós-operatório, redução de espasmos musculares, regeneração de articulações e reeducação de músculos que tenham perdido a sua capacidade de se contraírem devido a acidentes ou outras ocorrências.
A vertente desportiva é também contemplada na utilização de unidades de EMS, possibilitando a instituição de programas de tonificação e fortificação muscular, e o aumento do alcance de movimentos dos membros, consequência do aumento de flexibilidade muscular resultante da aplicação dos estímulos eléctricos.
Um aparelho de Estimulação Muscular Russo é em tudo similar às unidades de EMS quanto aos níveis de tensão e corrente utilizados, assim como dos pontos de aplicação (os nervos motores do músculo) dos estímulos.

Figura 12
A diferença essencial reside na forma de onda da corrente de saída do estimulador, a qual neste caso se apresenta como um trem de impulsos largo (de cerca de 10 segundos) a uma frequência de 2500Hz, seguido de uma pausa de repouso muscular (veja-se a Fig. 12). Este tempo de repouso deve ser 3 a 4 vezes superior ao tempo de exercício do músculo, por forma a não “massacrar” o músculo mas também não prejudicar o efeito da estimulação sobre este devido a um tempo de repouso.
Pelo facto da impedância de um corpo baixar com o aumento da frequência de onda aplicada (comporta-se como uma capacidade), este tipo de estimulação permite chegar chegar mais fundo no músculo que uma unidade de EMS, levando por isso a uma contração mais completa e forte das fibras musculares.
As principais aplicações destas unidades residem assim em programas de desenvolvimento muscular (sendo atualmente utilizadas por muitos atletas como complemento de treino em atividades baseadas na força física, nomeadamente o halterofilismo), em reabilitação muscular e tratamento da escoliose.
Um sistema de Estimulação Neuroeléctrica Transcutânea, TENS, tem como objectivo principal o bloqueio de sinais de dor. A principal diferença para um sistema de EMS convencional reside nos pontos de aplicação dos eléctrodos, os quais são colocados nos pontos nervosos sensitivos dos músculos (e não nos motores, como acontece nos sistemas descritos acima), de forma a estimular a produção de endorfinas, os analgésicos naturais do corpo, ajudando assim a normalizar a função simpática deste.
A figura 13 mostra a localização do s pontos motores e dos pontos sensitivos dos músculos. Note-se que estes pontos estão apenas representados numa das metades do corpo, existindo logicamente por simetria corporal o mesmo conjunto de pontos na outra metade. No entanto, é facilmente perceptível a existência um número de pontos sensitivos muito mais pequeno em relação ao número de pontos motores, levando à conclusão que um sistema de TENS, quando corretamente utilizado, apresenta menos configurações possíveis para posicionamento dos eléctrodos que um sistema de EMS convencional.

Figura 13
A amplitude da corrente de estimulação é mais baixa que num sistema de EMS, apresentando uma intensidade máxima de utilização de cerca de 50mA e frequências que podem ir até 150 ou 200Hz. Os tempos de sessão tendem a ser mais largos que no EMS (20 a 30 minutos contra 10 a 20 dos sistemas de EMS), e apresentam contrações menores dos músculos (idealmente, quase imperceptíveis), uma vez que a aplicação do estímulo não é feita sobre os seus pontos motores mas sim sobre os pontos sensitivos.
As aplicações comuns desta técnica de estimulação prendem-se assim quase exclusivamente à vertente da terapia da dor, ao servir de tratamento analgésico para dores crônicas e agudas, síndromas musculares nas costas e coluna cervical, artrites, neuropatias e várias outras situações que envolvam condições dolorosas.
A Estimulação Interferencial é caracterizada pela utilização de duas ondas de média frequência independentes (de frequências diferentes – vejam -se os exemplos presentes na figura 14), cujo trabalho conjunto resulta num sinal de estimulação do tipo modulado.

Figura 14
Este tipo de estimulação denomina-se interferencial porque as frequências presentes na onda modulada vão interferir na transmissão de sinais de dor ao nível da espinal medula, podendo reduzi-los ou até mesmo bloqueá-los, apresentando assim um cariz sedativo na sua utilização.
Visto serem ondas de média frequência (podendo estar assim entre valores como 2kHz e 10kHz), estas encontram uma impedância mais baixa por parte do corpo do utilizador (tal como acontecia na estimulação de tipo russo) que as unidades de TENS e EMS, aumentando o grau de penetração do estímulo nos tecidos sem perda de conforto de utilização. Este facto leva a que se possam estimular fibras nervosas parassimpáticas, mais profundas, melhorando a circulação sanguínea na zona de estimulação.
Estes dois resultados apresentam-se como as diferenças essenciais em relação a um sistema de TENS. As principais aplicações desta técnica de estimulação são a melhoria da circulação sanguínea, o controlo de dores de várias origens, ajuda à reabilitação e/ou efeito analgésico em situações de pré ou pós-operatório de cirurgias ortopédicas e recuperação de lesões a nível muscular ou das articulações.
A Electro-Acupunctura é uma forma de TENS, na medida em que tem como objectivo principal o tratamento da dor por estimulação eléctrica dos pontos nervosos sensitivos dos músculos. A principal diferença reside na utilização de eléctrodos que penetram no corpo, as agulhas de acupunctura, tornando esta técnica corporalmente invasiva para o seu utilizador.
O uso das agulhas permite concentrar a estimulação nos pontos nervosos sensitivos musculares, aumentando ao mesmo tempo a profundidade de atuação dos estímulos no músculo, uma vez que o eléctrodo penetra neste.
Estes dois efeitos levam a que os impulsos eléctricos aplicados ao músculo sejam menores que nas unidades de TENS (correntes com amplitudes que podem variar entre os ? A e alguns mA), com frequências de onda que podem ir de 1 a 1000Hz. As frequências mais baixas (normalmente até aos 20Hz) têm principalmente um efeito tonificante dos músculos, enquanto que a utilização de frequências mais altas (a partir de cerca de 50Hz) tem como objectivo principal bloquear a dor, actuando assim como analgésico.

Resultados do EMS

Quando se começa a fazer uma análise dos resultados obtidos pelos vários sistemas de EMS na realização dos seus objetivos, é-se deparado com uma clara separação entre os resultados obtidos no âmbito da fisioterapia e os obtidos na sua utilização em objetivos como o aumento da força muscular, perda de peso e redução de gordura corporal.
Os resultados terapêuticos dos sistemas de EMS no tratamento da dor, reabilitação e reeducação musculares, aumento da circulação sanguínea, redução de espasmos, prevenção ou retardamento de atrofia ou aumento da flexibilidade das articulações e músculos estão largamente documentados e comprovados na sua eficácia em livros de fisioterapia escritos por mestres nesta matéria, como é o caso da fisioterapeuta Susan O’Sullivan.
Os resultados no âmbito da eletroterapia apresentam-se como uma ciência instituída, com a prescrição de tratamentos, duração dos mesmos e contra-indicações existentes. Os resultados são principalmente visíveis aos pacientes no tratamento da dor, onde se reúne no consenso geral uma opinião positiva em relação às unidades de EMS.
A utilização de sistemas de EMS como ajuda ao desenvolvimento e tonificação musculares é prática corrente entre os atletas russos desde a década de 50, nomeadamente com a utilização do Estimulador Muscular Russo, também chamado Estimulador Muscular por Corrente de Kots.
O facto da estimulação muscular poder atuar como agente potenciador do desenvolvimento muscular durante a prática desportiva já apresentou várias provas, estando presentemente também documentado em livros e reunindo o acordo da maior parte dos especialistas em fisioterapia e eletroterapia no desporto.
Esta atuação dos sistemas de EMS deve-se ao facto de poderem conseguir a contração de um maior número de fibras musculares; no entanto, essa contração, por ser resposta a um estímulo externo e não a um movimento voluntário, é descoordenada, impossibilitando um desenvolvimento muscular significativo dessa zona.
A potencialidade da sua utilização encontra-se quando se provoca a contração por EMS numa altura em que as fibras musculares se organizam para executar uma tarefa, como é o caso de exercícios de treino muscular. Neste caso, o aumento do número de fibras que se contraem, propiciado pela utilização de EMS (conseguindo-se valores de contração 20 a 30% superiores aos conseguidos como máximo por uma contração voluntária), levam efetivamente a um desenvolvimento maior dos músculos que aquele alcançável simplesmente pelo treino.
A utilização de EMS para aumento da força muscular sem recurso a atividades físicas, devido à contração muscular descoordenada que provoca, é então uma aplicação com muito poucos ou nenhuns resultados. Várias experiências foram feitas a nível universitário que comprovam esse facto, sendo apoiadas pela opinião dos fisioterapeutas.
Se se acrescentar a isso o facto de muitos sistemas de EMS comerciais apresentarem uma posição de eléctrodos fixa, ignorando as diferenças de constituição tipo de resultados com esses aparelhos neste âmbito, por mais pequenos que sejam, será simplesmente uma questão de sorte.
Por último, a aplicação destes sistemas na perda de peso e redução de gordura são ocorrências que transcendem o domínio de utilização da EMS. Nenhuma das especificações técnicas dos vários sistemas de SEM aponta para a possibilidade destes queimarem calorias como se se estivesse a praticar uma atividade física, sendo esta uma novidade exclusiva dos anúncios publicitários sem qualquer apoio teórico ou prático credível.
Pelo contrário, as experiências levadas a cabo por várias entidades como universidades e clínicas de fisioterapia provam que fazer EMS não tem nenhum efeito nesse tipo de questões, prova essa corroborada pela opinião dos fisioterapeutas e das principais empresas fabricantes de sistemas de EMS.

Problemas levantados pela utilização de aparelhos de EMS

Embora a utilização de EMS possa aparecer em muitos casos como uma alternativa aos exercícios de recuperação e manutenção física ou massagens, esta não é para todos. Mulheres grávidas não devem utilizar este sistema, uma vez que as correntes eléctricas de estimulação podem prejudicar o feto.
Indivíduos com próteses também não devem fazer uso dos sistemas de EMS, uma vez que uma prótese metálica aumenta a condutividade eléctrica no corpo, podendo elevar as correntes de estimulação para níveis prejudiciais para a saúde do seu utilizador.
Pessoas que utilizem pacemakers ou outros implantes não devem fazer EMS, dado que as correntes de estimulação induzidas podem interferir no funcionamento do pacemaker e até mesmo danificá-lo, pondo em risco a vida da pessoa.
De uma forma geral, pessoas que sofram de arritmias ou outros problemas cardíacos não devem usar os sistemas de EMS, sob pena destes poderem provocar incidentes mortais para o seu utilizador. Uma vez que os sistemas EMS aumentam o fluxo sanguíneo aquando da sua utilização (muito em especial os sistemas de estimulação interferencial), é igualmente desaconselhado o seu uso por pessoas que sofram de hipertensão.
Numa altura em que as pessoas se defrontam com a existência de dezenas de sistemas de EMS comerciais, a escolha de uma marca que apresente padrões de fiabilidade ou garantias de qualidade e segurança na utilização dos seus produtos, é uma questão ainda pouco explorada.
A FDA (Food and Drug Administration), o organismo federal dos Estados Unidos que emite os certificados de aprovação destes sistemas, tem recebido vários relatórios sobre choques, queimaduras, irritações na pele, hematomas e dores sofridos por utilizadores de alguns destes aparelhos de estimulação, tendo sido necessária uma intervenção hospitalar em alguns casos para tratamento das lesões ocorridas.
Casos mais graves ocorreram com pessoas com implantes como pacemakers ou defibriladores, cujo funcionamento foi alterado por influência do sistema de EMS. A inexistência de um folheto de contra-indicações para esse produto levou essas pessoas a pôr inconscientemente a sua vida em risco, tendo sido uma falta grave e condenável da empresa distribuidora do sistema.
A FDA, até à data, certificou apenas um sistema de EMS como respeitando as normas de segurança e qualidade no seu fabrico e utilização. Embora grande parte dos atuais sistemas seja portátil e atuado por baterias de baixa voltagem (tipicamente entre 9 e 12 volts), o que praticamente elimina qualquer risco para a saúde do seu utilizador (excepto para os grupos de risco referidos acima), isso não impede que não se possam sentir alguns dos efeitos secundários descritos, como irritações na pele, uma vez que não são certificados.
O acompanhamento médico na utilização destes aparelhos é também uma componente importante para se evitar este tipo de problemas, sendo uma mais-valia para um correto seguimento de normas de segurança e utilização do sistema de EMS.

Conclusão

Os sistemas de estimulação electromuscular apresentam muitas aplicações tanto na área da fisioterapia como no ramo desportivo. A ideia dos resultados reais da EMS por parte das pessoas é geralmente errada, contribuindo em muito para isso a existência de uma máquina de publicidade enganosa a estes produtos, conferindo-lhes as virtudes de um ginásio caseiro muito especial, um ginásio em que basta uma pessoa sentar-se no sofá, ligar o aparelho de EMS e ver os músculos a desenvolver -se, a gordura a desaparecer e o corpo a adelgaçar-se.
Sem esforço. Esta ideia, passada nas publicidades aos sistemas comerciais de EMS, é um atentado à boa fé dos consumidores que, ao observarem na generalidade dos casos a ausência de resultados a esse nível, muitas vezes adotam a opinião de que os sistemas de EMS “não servem para nada”.
Este clima sensacionalista que envolve os sistemas de estimulação electromuscular prejudica a sua imagem e aumenta o sentimento de suspeição daqueles que, muitas vezes por questões terapêuticas, se vêem perante a possibilidade de um tratamento com base em EMS.
Os sistemas de EMS apresentam resultados comprovados no controlo da dor, reabilitação e reeducação musculares, redução de espasmos e prevenção de atrofia. É facto igualmente assente que estes sistemas melhoram a circulação sanguínea e aumentam a flexibilidade dos músculos e articulações, melhorando o alcance de movimentos do corpo. No campo desportivo, estes funcionam como agentes potenciadores do desenvolvimento e recuperação dos músculos quando sujeitos a treinos de força resistiva, como é o caso da musculação.
Note-se que é aqui que reside a diferença fundamental para o que dizem as publicidades aos produtos de EMS: o sistema atua como complemento potenciador e não como substituto do exercício físico.
Por outro lado, há que ter em conta as limitações ao uso de EMS e eventuais problemas que possa provocar. Nem toda a gente pode fazer EMS, e grande parte dos sistemas comerciais existentes não têm nenhum certificado passado por autoridades credíveis em como apresenta níveis de qualidade e segurança na sua utilização.
Se se associar a este facto o de muitas pessoas fazerem EMS sem acompanhamento médico, não é de espantar a ocorrência de problemas como queimaduras, hematomas ou dores (entre outros) sofridos pelos utilizadores destes sistemas.
Os resultados expostos no artigo põem a nu um facto incontornável: a EMS não nos dará os bíceps do Arnorld Schwarznegger se permanecermos sentados no sofá, mas pode potenciar os efeitos da prática desportiva intervindo nas suas diferentes etapas de forma decisiva.
Este artigo tem duas parte, pode ler a 1ª parte aqui!

Um comentário:

  1. Eaw achei muito top, gostaria de uma indicação de um aparelho bom, pois sou cadeirante e quero usar no abdômen e coxas fico no aguardo.

    E-mail: robinho775.s@gmail.com
    Face: https://www.facebook.com/robson.swht

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